17 de mai. de 2012

Dá pra viver sem a grana do refrigerante?

Quantos de nós abririam mão de participar de um mercado tão lucrativo?

Eu sei, é um assunto delicado esse. É mais fácil quando a gente só tem de criticar os outros, sem apontar o dedo para o próprio umbigo. Mas há momentos em que é preciso questionar a si mesmo e assumir uma posição.



A obesidade, todo mundo sabe, tem como um de seus grandes causadores o consumo excessivo de produtos ultraprocessados com altas concentrações de carboidratos simples, açúcar adicionado, gordura saturada e trans e presença mínima de nutrientes fundamentais para a saúde. Quem fabrica esses produtos (que neste momento prefiro nem chamar de alimentos) são grandes grupos industriais de atuação globalizada que consomem grandes quantidades de água potável (perto disso, o que a gente desperdiça no chuveiro é fichinha); dominam a agricultura no mundo inteiro, empobrecendo os pequenos agricultores que plantam comida de verdade (e assim reduzem e encarecem a oferta de alimentos saudáveis); fazem propaganda para crianças, inclusive indígenas; patrocinam campanhas de saúde para posar de mocinhos; compram empresas fabricantes de produtos menos ruins, como água mineral e suco de fruta, para também ter um portifólio de produtos "do bem"; e financiam todo tipo de mídia, como revistas, programas de TV e eventos esportivos de grande repercussão.

Diante de tudo isso, é superfácil apontar o dedo para essas empresas e xingá-las de malditas. Mas vem cá. Quem trabalha nessas empresas? Será que você não tem um amigo superquerido que trabalha no departamento financeiro de uma dessas empresas? Será que você mesmo já não pegou um projeto patrocinado por uma marca dessas? Eu mesma já tive que engolir propaganda de refrigerante acompanhando matéria minha, poxa! A escolha não foi minha, mas a propaganda estava lá, dividindo a página com meu texto preocupado com a alimentação infantil.

Quantos dos meus colegas trabalham ou já trabalharam em veículos de comunicação bancados por propaganda de refrigerante? Eu talvez possa arriscar dizer que todos já estiveram nessa situação ao menos uma vez. Os refrigerantes estão em quase todas as mídias. Dá a impressão de que nenhuma grande empresa de comunicação está disposta a abrir mão dessa grana. A grana que vem da venda de refrigerantes no Brasil, na Índia, na China, na África. Você imagine quanta gente paga suas contas com parte dessa grana preta.

Então, quando eu pergunto quem patrocina a obesidade, quem está contra e quem está a favor, fica difícil não espirrar um pedacinho que seja de merda na cara de todo mundo. Mais ou menos como aconteceu quando a gente viu "Tropa de Elite 2" e percebeu que, votando errado e se omitindo na política, a gente permite que aquele monte de corrupção e morte aconteça.

É, eu sei, é delicado. Mas, pra mim, é igual a corrupção. Ou você tá dentro, ou você tá fora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem, é possível viver sem refrigerantes, cervejas, vinho, sucos industrializados, o corpo agradece, o bolso mais ainda, a natureza então sem fale, essas coisas não existiam e nem por isso a gente morria.
A propaganda massiva que nos bombardeia deste pequeno é que faz consumir a maioria destas drogas.
Mas quem é dono de si pode escolher ser diferente.