A gente ouve tanto falar que atividade física é bom pra saúde que eu
acreditava que estava a salvo da maioria dos problemas da modernidade.
Não é bem assim. Descobri que, mesmo fazendo exercícios religiosamente e
mantendo um IMC (índice de massa corporal) baixo, a gente pode não
estar com uma condição física muito saudável.
Eu
jamais imaginaria, mas a nutricionista desconfiou. Com base no meu peso
e no tamanho dos meus ossos (que ela mediu usando um aparelho que marca
a largura dos ombros, dos quadris e dos punhos), ela teve motivos para
suspeitar que meu esqueleto estava ficando leve. Pediu que eu
consultasse meu médico e fizesse um exame de densitometria óssea. O
exame é feito por meio de uma espécie de scanner que passa lentamente
sobre a região central do corpo - enquanto o paciente fica deitado e
imóvel - e verifica a perda de material no interior dos ossos da coluna e
do fêmur.
Osteopenia. Essa palavrinha que eu
não tinha ouvido muitas vezes apareceu no resultado do exame e ergueu as
orelhas de todo mundo: nutricionista, médico, professor da musculação. A
palavra presente no papel indica que, aos 33, eu já tenho uma perda de
massa óssea que merece cuidados. Reforço na ingestão de cálcio e
vitamina D, exercícios resistidos e/ou com impacto (mas eu já faço
musculação!), sol na pele. Essas medidas, combinadas, haverão de levar
mais cálcio para meu esqueleto e torná-lo menos poroso, mais denso. São
cuidados que irão evitar que, mais para frente, eu tenha uma palavra
mais conhecida no meu exame: osteoporose.
Eu
achava que osteoporose era doença de velho. E de velho sedentário. Mas
têm aparecido também mulheres jovens com osteoporose. Imagina eu aos 40
com osteoporose. Parar de pedalar com medo de quebrar a perna numa
queda? Não dá. Já que meu problema está moderado ainda, a única
alternativa é revertê-lo a partir de já.
Perda
óssea não acontece à toa. Há hormônios envolvidos e todo um histórico de
hábito alimentar com sua culpa no cartório, além de eventuais
deficiências na absorção de nutrientes. No meu caso, a hipótese do
médico é que minha intolerância à lactose, desconhecida por toda a minha
vida até alguns meses atrás, tenha sido a responsável pelo desperdício
do leite que eu tomei desde criança. O leite é a nossa principal fonte
de cálcio, seguida dos queijos, mas quem não tem a enzima (lactase)
necessária para digerir o açúcar do leite (lactose) pode não ser capaz
de aproveitar esse cálcio. Quer dizer, tomei leite a vida inteira e não
absorvi todo o cálcio que ele tinha. Como os exames de sangue não acusam
a perda de massa óssea, pois o corpo manda retirar cálcio dos ossos
para manter os níveis sanguíneos sempre normais, só mesmo a
densitometria óssea poderia revelar o que estava acontecendo.
Hoje, desmamada das xícaras matinais de café com leite, tenho de
apelar para cápsulas de suplemento de cálcio para suprir as
necessidades do meu corpo inteiro. E sei que não posso abrir mão dos
exercícios resistidos até pelo menos normalizar a situação.
Fico pensando nas oportunidades que a gente tem para descobrir o
que se passa com nossas células, nosso sangue, nossos órgãos. Quando
aparece alguma dor ou desconforto é mais fácil. A dor incomoda e a gente
vai ao médico implorando por uma explicação e uma solução. Mas nem
todos os problemas dão sinais externos. Pelo menos não em seu estágio
inicial. É possível descobrir uma osteoporose em decorrência de uma
fratura, mas aí já é tarde, a doença está aí.
Bacana mesmo é descobrir tudo bem antes, quando dá tempo de consertar,
de preferência com mudanças de hábito simples como incluir no café da
manhã uma cápsula de suplemento nutricional e intensificar a rotina de
exercícios. Só que isso, a mim parece, depende em parte de uma certa
dose de hipocondria em cada um de nós. Depende de a gente consultar um
nutricionista de vez em quando, mesmo quando acredita que a dieta está
OK. Depende de a gente fazer aquele hemograma periódico mesmo quando
sente que está tudo bem. Depende de perguntar tudo ao profissional que
nos orienta nas atividades esportivas e correr atrás de orientação
sempre que aparecer uma dorzinha, uma tontura, um formigamento. Depende
de não escaparmos jamais das perguntas que eles nos fazem sobre nossa
saúde, mesmo quando dá vontade de soltar uma resposta "blasé". E, acima
de tudo, depende de não fugirmos dessas relevações por medo de descobrir
que não estamos tão bem assim.
Em tempos de exame de DNA, não saber em que pé está nossa saúde é uma atitude no mínimo obsoleta.
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