Cada um que descubra o que funciona para si e vá atrás das melhores influências
Já ouvi dizer que mudar um hábito é um dos desafios mais difíceis para um ser humano. Mas que eu saiba não existe jeito mais eficaz de conquistar certas melhorias em nossa vida. Para ter mais dinheiro, por exemplo, é recomendável mudar alguns hábitos de consumo e se planejar para aumentar os ganhos no médio prazo. Para perder alguns quilos de forma saudável, nada funciona melhor que modificar os hábitos alimentares. Teoricamente, então, bastaria seguir as recomendações dos gurus e pronto: o mau e indesejado hábito estaria automaticamente substituído pelo novo hábito desejado. Mas alguma coisa torna essa tarefa um pouco mais complicada que isso.
Recentemente, li um livro que pretendia resolver essa questão de uma vez por todas. Chama-se Change Anything - The New Science of Personal Success (li em inglês e acho que ainda não há edição em português). Os autores (Kerry Patterson, Joseph Grenny e outros) partem de um experimento clássico feito com crianças para analisar o comportamento humano diante de oportunidades, influências e tentações. Primeiro, as crianças recebem algum dinheiro e são avisadas de que poderão guardá-lo ou comprar com ele o que quiserem. A decisão é delas: gastar ou guardar.
Aí começam os testes. As crianças dão de cara com uma vendinha com guloseimas a preços altíssimos em comparação com o que encontrariam em qualquer comércio fora dali. A decisão racional seria a de não comprar nada ali, porque assim perderiam dinheiro. Mas essa decisão racional só ocorria às crianças influenciadas nesse sentido. As crianças que eram provocadas a comprar doces mesmo a preços tão altos (fosse por meio de propaganda, incentivo de outras crianças ou adultos) acabavam cedendo à tentação. E algumas se arrependiam depois. Um experimento parecido foi feito pelo CQC recentemente.
Os autores refutam veementemente a tese de que basta força de vontade para mudar um hábito. Afinal, estamos inevitável e constantemente sendo influenciados pelo ambiente. A tese dos autores de Change Anything é que, qualquer que seja o hábito que queiramos mudar (gastar melhor, comer melhor, fazer mais exercício, estudar mais, trabalhar melhor, brigar menos etc.), haverá sempre seis fatores de influência conspirando contra ou a favor: habilidades e motivações pessoais, habilidades e motivações sociais e habilidades e motivações estruturais.
Os termos podem ser um tanto abstratos, mas não é difícil entender. Habilidades e motivações pessoais são os pensamentos e os conhecimentos que nós temos sobre o hábito que pretendemos adotar. No caso da decisão de gastar melhor, eu preciso entender um pouquinho de matemática básica e ter muito claro para mim por que preciso economizar dinheiro (metas bem definidas sempre ajudam) a fim de aceitar os "sacrifícios" que terei de fazer em nome da nova forma de gastar.
Habilidades e motivações sociais são os pensamentos e conhecimentos que a sociedade me leva a ter, por meio da cultura, da mídia, da escola. O que é que a sociedade me ensina sobre como gastar meu dinheiro? Ou melhor: de tudo que eu recebo da sociedade em matéria de informação sobre como gastar meu dinheiro, quais lições eu absorvo e aproveito? Isso depende muito, mas muito mesmo, do que a gente quer aproveitar.
Se eu ficar vidrada em tudo que a publicidade diz, em todas as novidades maravilhosas que as empresas inventam e botam no mercado, eu vou querer consumir sem parar, como se fosse milionária, como se minha saúde fosse imune a todo tipo de poluente. Não posso ficar absorvendo toda publicidade sem filtro, como se tudo que ela diz fosse bom para mim, certo? Então o que preciso fazer com relação às habilidades e motivações sociais é filtrar ou ignorar o que não interessa aos meus objetivos e buscar as influências que me ajudem a adotar e manter os hábitos que eu quero e que farão bem a mim.
Onde estão as boas influências? Nos amigos que entendem nossos objetivos, por exemplo. Nós podemos pedir a eles que nos ajudem. O objetivo é comer melhor? "Estou fazendo uma reeducação alimentar, então por favor não me convidem para comer junk food, mas me chamem sempre que forem comer comida bacana." As boas influências, no caso do objetivo de gastar melhor, estão também nas revistas que não incentivam você a comprar a última moda o tempo todo e nos formadores de opinião que trazem informações confiáveis sobre planos de investimento. O recado do livro aqui é que podemos escolher quais influências iremos acatar. Admito que isso requer disciplina e coragem, mas, se a mudança de hábito desejada for importante, o preço a pagar será justo.
Já as habilidades e motivações estruturais estão um pouco mais distantes do nosso alcance, e em geral é por meio da política que podemos interferir nelas. Um exemplo é a política de preços. Por exemplo, ficaria mais difícil para os jovens começar a fumar se o cigarro fosse muito mais caro do que é hoje, ou se já estivesse proibido vender cigarro em padarias. Como o cigarro ainda é barato e acessível, continua fácil demais para qualquer adolescente fumar quando quiser, sob influência de amigos que acham cigarro coisa de gente cool.
Outra forma de influência estrutural que poderia ser mais positiva é a oferta de degraus no lugar de elevadores e escadas rolantes, como já abordei em outro artigo. Não resolve muito ficar dizendo para as pessoas usarem mais a escada se a escada está escondida atrás de portas corta-fogo.
O que podemos fazer então para que mudar nossos hábitos seja menos difícil? Observar o que já funcionou antes, o que já nos ajudou a mudar hábitos outras vezes, e ir atrás das verdadeiras ajudas. Se for preciso, identificar o que está faltando no meio em que você vive e brigar por melhorias.
Comece observando sua casa. Ela está conspirando a favor de todos os bons hábitos que você está tentando adotar e manter? Tem certeza? O que há na sua geladeira? E na sua carteira? E a empresa em que você trabalha, está colaborando para as mudanças pedidas aos funcionários? E sua cidade, tem as leis certas para que os cidadãos ajam como se espera?
Enfim, eu poderia ficar aqui escrevendo sobre isso o dia todo. Mas vou deixar tempo para você refletir e, por que não, escrever, para mim ou para você mesmo, sobre os hábitos que deseja mudar, aproveitando que estamos no primeiro dia útil do novo ano. Para terminar, deixo uma provocação final: Qualquer que seja seu objetivo, faça agora. É a lição que aprendi com o músico argentino Kevin Johansen, que me inspira em tantos momentos.
Boa sorte com suas mudanças. E feliz 2012.
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