Já faz alguns anos que eu decidi que faria
exercícios para sempre, qualquer que seja o exercício que eu aguente
fazer depois de velhinha. Inventei que chegarei pelo menos aos 50 com
uma forma física a mais parecida possível com a que eu tinha aos 30. Eu e
minhas neuras. Na avaliação física que fiz há cerca de dois meses,
porém, temi que a decadência já tivesse começado. Pensei em investigar
de que forma o exercício pode atrasar os efeitos do envelhecimento ao
longo da vida e quais os melhores resultados que a gente pode obter até
depois dos 70 anos.
Aí me lembrei do Abílio
Diniz. O grande homem do Grupo Pão de Açúcar está com 72 anos e exibe um
corpão de... nem sei mais que idade aqueles músculos parecem ter. Ele
corre, pedala, joga squash e faz um treinamento na academia da empresa.
Como é que ele pode estar tão bem depois dos 70 e eu estar tão
preocupada com o meu desempenho antes dos 40?
Logo no começo das minhas investigações, encontrei gente dizendo que
existem duas coisas muito boas para ficar com o corpo tinindo de bom
depois que os cabelos embranquecem. Ou melhor, três. A primeira era
mesmo jamais parar de se exercitar. OK, essa eu já sabia. A segunda era
escolher exercícios de força e com impacto, para fortalecer os ossos e
nos manter protegidos da osteoporose. Claro, sempre preparando a
musculatura antes e na medida do esforço. E a terceira era estar sempre
aprendendo alguma coisa nova.
Opa! Foi aí que eu
arregalei os olhos. Então não bastaria eu puxar ferro pesado pelo resto
da vida. Eu teria de renovar minhas atividades de tempos em tempos para
gerar novos estímulos ao meu corpo. Curioso.
Fui puxar conversa com o treinador do Abílio, o Irineu Loturco Filho.
Ele me disse que o envelhecimento traz naturalmente perda de força, de
resistência, de flexibilidade, de velocidade, de agilidade e de
coordenação. Ainda não se sabe bem em que medida o estilo de vida
favorece essas perdas, mas há evidências de que é possível adiá-las com
um treinamento físico apropriado. E precoce. Quanto mais cedo a gente
começa, maior a chance de prolongar essas capacidades motoras.
O Abílio Diniz é
um cara que, mais do que eu, se preocupa em envelhecer superbem. Quando
ele chamou o Irineu para trabalhar com ele, queria uma rotina de
exercícios que o ajudasse a cuidar da saúde e manter um alto grau de
desempenho a vida toda. E adotou um programa que, além do treinamento
convencional de força (o que eu faço há anos), envolve rapidez, impacto,
potência muscular e coordenação. Entre as técnicas diferentes que ele
usa estão os chamados exercícios pliométricos de intensidade baixa e
moderada (os de alta intensidade são mais usados com atletas). São
movimentos mais explosivos, com mais velocidade e potência (em contraste
com os da musculação tradicional, que são mais lentos).
Um bom exemplo é o salto vertical. Após uma breve flexão dos
joelhos, você estende rapidamente as pernas, empurrando o chão com a
ponta dos pés, com a intenção de pular o mais alto que puder. Até parece
fácil. Mas, se você não joga vôlei ou basquete, tente e perceba que não
é. Segundo o Irineu, os exercícios pliométricos exigem um alto grau de
coordenação motora e provocam profundas adaptações no sistema nervoso
central e nos grupos musculares. Não só os pliométricos, aliás. Esse
tipo de adaptação é o produto de uma enorme gama de exercícios
neuromusculares. Eles ensinam músculos e tendões a usarem melhor a
energia elástica e economizarem energia nos movimentos. Com isso, diz o
Irineu, o aparelho locomotor fica mais protegido.
Com essas adaptações, o corpo desenvolve uma força que pode ser
manifestada rapidamente. Na corrida, por exemplo, o pé vai precisar de
menos tempo em contato com o chão para impulsionar a perna a cada
passada. A vantagem é que o corpo passa a usar menos energia para
realizar o mesmo esforço de antes em atividades que exijam velocidade.
Fica mais eficiente. Então emagrece menos? Não se você for inteligente e
correr mais rápido, aproveitando sua nova condição neuromuscular.
E isso não é coisa para atleta?
Era.
Na academia do Pão de Açúcar, freqüentada pelos funcionários da
empresa e pelo próprio Abílio, a técnica tem sido usada também por gente
comum que quer explorar mais suas capacidades motoras enquanto é tempo.
O Irineu, além de consultor técnico da academia, vem estudando tudo
isso dentro do seu programa de doutorado, em Sevilha, na Espanha. Ele
defende esse tipo de exercício para manter a saúde do sistema nervoso,
do sistema muscular e do tecido ósseo, além de melhorar o desempenho
esportivo em diversas modalidades.
Ele acredita
tanto nas vantagens do treinamento neuromuscular para não-atletas que me
convidou para experimentar. E verificar, depois de quatro semanas, se o
treinamento fez diferença nos meus passeios de bicicleta, na minha
corridinha de meia hora e nas minhas recém- retomadas aulas de circo.
É claro que eu topei.
Para medir a diferença entre meu desempenho antes e depois das
12 sessões de treino, na última segunda-feira fiz alguns testes de
velocidade, potência, impulsão e força. Também passei pela nutricionista
Patrícia Campos, que tirou minhas medidas e me passou uma dieta com a
finalidade de não me deixar emagrecer (vocês vão me desculpar, mas eu
nasci magricela e tenho facilidade para perder peso, não para ganhar).
E, com sorte, favorecer o ganho de massa muscular.
A expectativa é que meu corpo fique mais esperto e mais prevenido
contra o envelhecimento. Embora eu ainda seja razoavelmente jovem, sei
que a gente começa a envelhecer antes dos 30, e eu não quero esperar "a
idade" chegar para tomar as providências.
A sorte está lançada. Vocês, leitores, poderão acompanhar nesta coluna os resultados desse experimento.
(Originalmente publicado em www.epoca.com.br)
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