Por que não ter a estrutura de um escritório
grande ao meu dispor me ajuda a cuidar da saúde
Um mês depois de voltar a ser freelancer,
começo a curtir de novo as benesses de trabalhar
num home office. É verdade que, em casa, é preciso tomar alguns cuidados para
não deixar a solidão tomar conta e entrar numa certa depressão. Ficar online,
marcar almoços de trabalho e encontros com amigos é fundamental para manter a
autoestima em alta. Mas, em vários aspectos, é bem mais saudável pro meu corpo
ficar sozinha do que passar a maior parte do tempo dentro de uma redação toda estruturada,
em que tenho de estar com aparência produtiva o tempo todo. Explico.
Todo dia, lá pelas 17h, me bate aquela fome
vespertina inevitável. Na editora, eu tinha uma bolsinha térmica com frutas e
algumas variações de lanche, como pão com geleia (gelado) e iogurte com granola
à parte. Mas muitas vezes não parava o trabalho para comer assim que a fome
batia e deixava o estômago roncando uns bons minutos. Quando o lanche acabava e a fome não
tinha terminado, era duro. Até chegar em casa e finalmente jantar, a fome e a
irritação cresciam. Mas por que eu não ia atrás de mais comida lá dentro da
empresa mesmo? Oras! Porque, além de uma máquina com sanduíches e salgados
horrorosos (que eu nunca comprava) em cada andar, só o que havia ali era uma lanchonete com cardápio
limitado a uma distância de seis andares e mais 100 metros da minha mesa.
Não era solução pra todo dia.
Meu home office fica no chamado quartinho
de empregada, ao lado da lavanderia, que por sua vez está ao lado da cozinha.
Bastam quatro passos para alcançar a geladeira e montar na hora, em menos de
cinco minutos, meu lanchinho gostoso de fim de tarde. Aqui, tenho pão
multigrãos, requeijão, geleia, café coado, granola à vontade, iogurte
“natural”, leite com baixa lactose e frutas variadas a meu dispor. Quando quer
que a fome venha, posso atacar alguma coisa na cozinha rapidamente, com a
garantia de ter passado pelo meu próprio crivo de qualidade nutricional no dia
da compra de supermercado.
E, desculpem a crueza da informação, mas eu
sou um filtro. Bebo água o dia todo e elimino o excedente inúmeras vezes ao
dia. Na redação, era um tanto constrangedor levantar para ir ao banheiro tantas
vezes. Minha colega de “baia” já reclamou: “de novo, Francine?!”. Aqui em casa,
escapo para o xixi sem cerimônia, quantas vezes for necessário, e sem perder
muito tempo. Afinal, isto é um apartamento, tá tudo aqui pertinho.
Só por me permitir matar a fome sempre que
ela grita e eliminar as sobras sempre que elas querem sair, trabalhar em casa
já é um incentivo a movimentar o corpo com mais frequência. Mas, sem a estrutura
de uma empresa, com secretaria, motorista e serviços de entrega, eu também sou
obrigada a me movimentar mais pelo bairro. Felizmente, moro num lugar em que
consigo resolver tudo a pé. Andando rápido pelas calçadas, em meia hora imprimo
documento na papelaria, compro envelope, envio correspondência pelo correio,
pago conta no banco e volto para casa com a papelada em dia. Se precisar ir
alguns quarteirões mais longe, posso ir de bicicleta.
Pode parecer bobo, mas são detalhes simples
como esses que garantem nossa qualidade de vida quando é preciso trabalhar
sentada, digitando num computador, muitas horas por dia. Levantar da cadeira de
hora em hora, alongar o corpo e dar uma espiadela pela janela, dizem os
médicos, faz uma diferença danada na prevenção de problemas de vista e dores
nas articulações.
Uma jornalista pernambucana me contou há
pouco que, aos 35 anos, descobriu que tem artrose. Ficou chocada. “Discos
vertebrais atrofiados”, ouviu do médico. E veio a saber que isso é cada vez
mais comum em pessoas jovens que passam muito tempo com má postura, se
alimentando mal e repetindo os mesmos pequenos movimentos articulares no horário
de expediente. O sedentarismo também é um atrativo e tanto para a atrose. Quem
de nós está imune?
Fisicamente ativa quando mais nova, essa
colega nem desconfiava que teria esse problema tão cedo. Agora, interrompe o
trabalho (e a conversa online com amigos) de hora em hora para se alongar e está
metida com sessões de fisioterapia, RPG, Pilates, massagens e algumas outras
terapias que custam um bom dinheiro – e um bocado de horas semanais.
Confesso que fiquei assustada, mesmo sendo
uma pessoa fisicamente ativa. Vai saber. Em vez de teclado grande e apoio para
os cotovelos, como eu tinha na redação, em casa uso notebook e uma cadeira menos
confortável. Meu escritório não tem janela. E eu faltei no treino de segunda-feira.
Uma certa preocupação eu tenho, sim. Quer saber? Chega de computador por hoje. Vou espichar as pernas lá fora. Até
mais.
4 comentários:
Engraçado: eu, se tivesse que escrever sobre o mesmo assunto, provavelmente faria algo do tipo "Os perigos de trabalhar em casa". Nada mais tentador que uma geladeira a quatro passos de mim; eu levantaria de 10 em 10 minutos pra comer...
Mas eu leio este relato de bons habitos e vou pra cama incentivada a fazer diferente amanhã :)
Beijo!
Francine, que bom que resolvi estar atenta aos comentários na sua última coluna de Época. Estava DESESPERADA sem seus posts! AGora encontrarei todos aqui, que felicidade! Beijos, Mariana Cabral, Natal/RN
Eita, Mariana. Vou tentar ficar menos tempo sem escrever! Bem-vinda!
Carol, já pensou em usar um alarme? Em vez de obedecer à fome ou à vontade de comer, você daria a suas refeições uma rotina regrada pelo relógio. A cada três horas, um chamado do relógio anunciaria seu direito de comer o que o horário permitisse, com itens e porções previamente delimitados. De preferência, um cardápio diferente todo dia (coisa que eu não faço, aliás). Será que funciona?
Depois me conta.
Beijos
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