15 de jul. de 2011

Com que roupa eu vou... de bike?


Os trajes formais recomendados para entrevistas de emprego não servem à ciclista urbana



Esta semana um amigo jornalista ligou com uma nova proposta de trabalho. Marcamos uma conversa na empresa, mais ou menos próximo da minha casa, no meio da tarde da sexta-feira, dia conhecido como o de pior trânsito em São Paulo. Perguntei se ele recomendava ir de carro ou de bike (de ônibus, corria o risco de me atrasar, pois não conhecia as linhas certas), e ele me incentivou a ir de bike, a menos que eu quisesse demorar para chegar e pagar pelo menos quinze reais de estacionamento por uma hora de uso da vaga. Perfeito, pensei. Vou ecológica, rápida e econômica. E sem me sentir constrangida por ir pedalando, afinal o entrevistador já me conhecia.

Mas no dia do encontro percebi que não sabia o que vestir para a ocasião. Por mais que a amizade facilitasse a entrevista, era preciso estar adequada ao teor da conversa. Eu seria vista não só pelo meu amigo, mas por outros funcionários da empresa, com quem, talvez, eu viesse a trabalhar. Qual seria a roupa certa para uma entrevista de emprego de uma ciclista que já é conhecida do entrevistador? 


Todas as dicas que já li sobre entrevistas de emprego sugerem trajes mais formais para esse dia. Segundo os ditos especialistas, mulheres devem vestir preferencialmente uma camisa clara com calça preta e um sapato de salto baixo. Se quiserem vestir saia, ela deve ser comprida (abaixo do joelho). Mas isso só se aplica, no meu ver, para a expectativa de causar uma boa primeira impressão. Não era esse o caso, mas também não era o caso de me vestir em estilo totalmente informal, muito menos de botar uma bermuda de lycra com tênis e meia.

As dicas que já li sobre roupas e acessórios para ciclistas urbanos, por outro lado, não se aplicam a entrevistas de emprego. Encontrei vários sites ensinando a dobrar ou enrolar ternos dentro do alforje, sugerindo guardar uma peça roupa ou o sapado de trabalho no local de trabalho, recomendando levar toalha e peças de roupa extras. Nada sobre o dia em que você tem de chegar pela primeira vez ao escritório, impecável, sem ter onde trocar de roupa.

Senti falta de ter no armário roupa que fosse ao mesmo tempo bonita, arejada (fazia um ótimo calor de inverno) e apropriada para meu meio de transporte. No armário? Senti falta de já ter visto coisa parecida em alguma loja. Os shopping centers têm lojas de roupas esportivas e lojas de trajes sociais separadas. Já viu como é o setor dos ciclistas? Roupas justas, com listras, bem coloridas, com bolsos traseiros. Impensável chegar ao trabalho vestido assim, imagina a uma entrevista. Quem sabe no setor de esportes de aventura. Ali há camisas e calças mais elegantes, é verdade, mas ainda bem esportivos.

Acabei improvisando de um jeito longe de ser o ideal. Vesti uma saia preta bonita (mas um pouco acima do joelho) com uma camiseta justa branca, um colar preto e um sapato tipo boneca preto com saltinho baixo, que não atrapalhava no pedal. Por baixo da saia, um shortinho curto de supplex. A bolsa foi dentro do alforje. Consegui pedalar erguendo um pouco a saia, o que me pareceu ter alegrado alguns pedestres e me constrangeu. Mas ir de bermuda comprida por baixo da saia e tirá-la no estacionamento, na frente do guardador de carros, seria pior. Ir de jeans com stretch debaixo daquele sol também não seria legal, pois eu chegaria suada demais. Talvez os “especialistas” achem que em dia de entrevista a gente jamais deve ir de bicicleta. Mas numa cidade com esse trânsito, num período do ano com tanta poluição e tempo seco, será que não poderia haver alguém produzindo roupas e acessórios para pessoas que querem ser profissionais bem vestidos, econômicos e ecológicos, tudo ao mesmo tempo?

3 comentários:

Verônica Mambrini disse...

Francine,

Eu sou adepta de cycle chic, até mantive por um tempo um blog sobre o assunto. Na minha última entrevista, fui de bike, bem arrumada e maquiada (percurso de 9 km com avenidas) e a minha futura chefe nem percebeu. É, ganhei a vaga.

Vi que seu post no fim é positivo ao deslocamento de bike nessas ocasiões. Eu pedalo bastante, bastante mesmo, com minhas roupas comuns. Quase nada no meu guarda-roupa é impeditivo de ir pedalando. Uma ou outra saia-lápis. É questão de costume.

Para quem ainda não está acostumado, sempre dá para parar num café antes, ou dar a ajeitada final, tirar a bermuda, no toilete, antes de encontrar seu entrevistado. Tendo vontade, o resto é pegar manhas e naturalizar o comportamento.

A essa altura já deve ter saído o resultado, espero que tenha sido o melhor possível.

abraços

Francine Lima disse...

Cycle chic, olha só! Não sabia que existia esse nome, Verônica. Muito bacana seu comentário, obrigada.
E eu continuo sendo freelancer, e acho que foi um bom desfecho, por enquanto.
Bem-vinda e volte sempre!

Francine Lima disse...

Ah! E andei desconfiando que minha bicicleta também não favorece roupinhas mais mimosas. Falta nela um quadro mais baixo, feminino, pra eu poder usar saia e montar nela sem erguer a perna lá no alto ; )