O prazer da musculação é o resultado
Se fosse fazer uma enquete, talvez 
concluísse que algo entre 8 e 9 amigas minhas têm preconceito contra 
academias de musculação. Todas gostariam de estar um pouco mais magras 
ou um pouco mais gostosas, mas a maioria não se anima a enfrentar a 
rotina de uma malhação repetitiva naquele tipo de ambiente. Talvez achem
 que uma sala toda preenchida de máquinas pesadas não é exatamente um 
lugar para mulheres. Ou que é fútil demais gastar uma hora por dia 
dedicando-se exclusivamente a esculpir a musculatura. Mas há quem 
simplesmente ache que puxar ferro em vez de praticar um esporte ou 
dançar é muito chato. 
De fato, uma sala de 
musculação não se compara a uma quadra. Ali não há nada de lúdico, não 
há jogo, não há professor animando a galera, não há equipes nem grupos 
unidos em torno de um objetivo comum. Ali é cada um por si, 
supervisionado por um professor que fala baixo, de olho nas necessidades
 individuais. O único propósito de encaixar-se naquelas máquinas e 
repetir os mesmos movimentos de sempre olhando para outras pessoas em 
ações (e até conversas) igualmente repetitivas é mudar o corpo por 
dentro. 
Tenho uma amiga que andava ensaiando se 
matricular em alguma coisa para entrar em forma. Já tinha emagrecido com
 caminhadas e não costumava abusar na alimentação, já que é vegetariana.
 Mas ainda não estava satisfeita. Ela me escreveu meio aflita: 
"Francine, estou em crise acadêmica! Preciso de ajuda! (risos) 
No meu processo de tentar ficar em forma e sair do sedentarismo, estou 
esbarrando em minha pobreza. Queria fazer pilates, mas as aulas são 
apenas duas vezes por semana (mais que isso é inaceitável 
financeiramente).Não sei se só isso resolve. A segunda opção é mandar o 
pilates se danar e entrar em uma boa academia, porém tenho medo de me 
machucar. O que você recomenda para alguém desembarangar?" 
Além de engraçada, achei interessante a preocupação dela. Medo 
de se machucar. Então a impressão que ela tinha de uma academia era de 
descuido com os alunos, em contraste com o cuidado especial do Pilates. 
Será que é assim mesmo? 
Sugeri que ela passasse 
por um bom médico e, junto com ele, com base na sua composição corporal e
 na qualidade postural, definisse seus objetivos mais urgentes. Acho que
 meu palpite foi útil. Ela me contou o seguinte, dias depois: 
"Fiz uma avaliação física com uma médica muito legal. Uma 
fisiatra cubana, que aliás é a dona da academia. Estou animada. Mas ela 
me proibiu de emagrecer. Segundo a avaliação física, eu tenho 17,5% de 
gordura corporal. Ela quer que eu "inverta' a ordem em vez de perder 
peso. Tipo queimar massa gorda e criar músculo. Ela disse que, se eu 
perder 1,5 kg de gordura e ganhar 1,5 a 2 kg de músculo, alcanço uns 
15,5% de gordura. Ela disse na minha cara: 'você está flácida e sem 
músculo. Precisa criar músculo, já tem 30 anos' (risos). Essas coisas 
muito agradáveis de escutar e ótimas para a autoestima feminina (risos).
 Por isso decidi começar a 'gostar' de musculação (risos)." 
Acho uma delícia observar as mudanças que acontecem quando 
alguém resolve experimentar outro ponto de vista. Essa minha amiga 
queria emagrecer e, ao passar por uma avaliação profissional, descobriu 
que não está gorda. Só está flácida. E que, em vez de perder, precisa 
ganhar. Desconfio que a fisiatra estava preocupada não com a aparência 
da nova aluna, mas com sua saúde óssea. Depois dos 30 anos, a mulher 
precisa da musculação não só para ficar com a musculatura mais 
bonitinha. A musculatura mais firme vai estabilizar mais os ossos e 
articulações, como se segurasse mais forte no esqueleto. Além disso, o 
trabalho resistido no qual consiste a musculação também mexe no 
metabolismo dos ossos, favorecendo a calcificação e afastando o risco de
 osteopenia e osteoporose. 
Meu consultor 
de cabeceira José Borbolla, um personal trainer devorador de livros e 
artigos científicos, me ajuda aqui nessa explicação: "A musculação é 
importante neste quadro, assim como demais exercícios que envolvam 
impacto, porque o tecido ósseo, como todos os demais tecidos do corpo, é
 vivo e responde a estímulos externos, principalmente àqueles aplicados 
ao longo do eixo longitudinal do osso (força de compressão). O tecido 
ósseo sente o estímulo e sinaliza quimicamente para uma maior produção 
de matriz óssea."
Não sei se foi o razoavelmente
 baixo percentual de gordura ou a verdade inconveniente que a fisiatra 
despejou na minha amiga, mas aparentemente ela se convenceu de que a 
musculação era uma atividade física importante e viável para ela neste 
momento. Importante como prevenção contra a perda de densidade óssea, 
importante como forma de embelezamento e importante também para ajudar 
na correção postural, além de uma série de outros benefícios que os 
estudos vêm apontando. Além disso, ela não deixou a intenção de fazer 
Pilates inteiramente de lado, optando por um tipo oferecido na própria 
academia, sem acréscimo na mensalidade. Já na primeira semana, a garota 
estava bastante otimista: 
"A academia é legal. 
Estou fazendo três aulas de pilates solo e três sessões de musculação, 
intercaladas. Tive uma surpresa com a academia. A última vez que tinha 
feito musculação foi em 1999. As máquinas eram horríveis. Nossa! Como 
melhoraram! Estão mais confortáveis, com menos atrito... São quase 
agradáveis! (risos) Confesso que estou gostando mais do que naquela 
época porque as máquinas de hoje são muuuuuuito melhores. Antes eram 
máquinas mais pesadas. Sei lá, era estranho. Agora parece que tem uma 
espécie de amortecedor nos pesos. Muito bom. Você só sente o esforço do 
peso e nada mais. Tô sentindo a diferença na minha barriga 'geleca'. E 
penso: 'ai, por que não fiz isso antes?' 
Para 
quem ainda nutre algum tipo de preconceito contra a puxação de ferro de 
academia, eu proponho um desafio. Informe-se suficientemente sobre seus 
benefícios, escolha uma academia de qualidade, faça as devidas 
avaliações, experimente praticar regularmente por pelo menos três meses e
 observe os resultados. Será que os preconceitos permanecem?
(Originalmente publicado em www.epoca.com.br)
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